POR UM PLANETA CONSCIENTE E VIVO


Ezra Pound

uma voz no deserto

“A usura é o câncer da humanidade.”
 Ezra Pound

Poucos souberam denunciar os malefícios da usura e a hipocrisia do sistema democrático-liberal de forma tão contundente e clara como Ezra Pound.
Ezra Weston Loomis Pound nasceu em 1885 em Idaho, EUA. Aos vinte e três anos decidiu mudar-se para a Europa. Fixou-se em Londres, onde começou a travar contato com os círculos intelectuais ingleses. Conheceu William B. Yeats, poeta já consagrado, tendo-se estabelecido entre ambos uma forte relação de amizade e uma produtiva troca de idéias que se prolongou por vários anos. Em 1912, Pound foi convidado a ser correspondente da revista Poetry, de Chicago. Ele usou essa relação com a revista para promover jovens escritores hoje famosos – T.S. Elliot, James Joyce e Ernest Hemingway, entre outros – os quais talvez nunca tivessem conseguido seu lugar ao sol de outra maneira. 

Chegou inclusive a financiá-los com recursos do próprio bolso, embora vivesse em condições relativamente precárias, e foi essa uma das inúmeras mostras de idealismo que deu ao longo da vida. Numa determinada ocasião, declarou que sua meta principal era manter vivo um certo número de poetas vanguardistas a fim de que as artes fossem colocadas “no lugar que merecem como guia reconhecido e como lâmpada da civilização”, e lutou com todas as suas forças para que esse objetivo pudesse ser alcançado.

A obra de Pound é pontuada de severas críticas ao sistema capitalista. Durante a Segunda Guerra Mundial, as convicções do poeta levaram-no a apoiar o Fascismo, que considerava como a única possibilidade de vencer o sistema financeiro internacional, identificado por ele como a causa principal dos problemas do mundo. Ele atribuía a culpa pelos conflitos à finança internacional, e acusou o Judaísmo norte-americano de haver criado o Bolchevismo: “Esta guerra não nasceu de um capricho de Hitler ou Mussolini”, afirmou certa vez, “esta guerra é parte da luta milenar entre usurários e trabalhadores, entre a usurocracia e todos os que fazem uma jornada de trabalho honrado com o braço ou com o intelecto”.

Em Rapallo, Itália, onde viveu de 1925 a 1945, Pound obtém durante a guerra uma autorização da rádio Roma para nela se pronunciar regularmente. De janeiro de 1941 a julho de 1943, falou através dela duas vezes por semana, quando então expôs suas idéias contra a guerra, contra o presidente Roosevelt e o sistema de usura. Ele costumava dizer que somente com o rádio a liberdade de expressão se tornava viável, uma vez que, por mais que se alegasse o contrário, a imprensa estava controlada.

Mas, como é fácil imaginar, as idéias do poeta incomodavam muita gente e, em 5 de maio de 1945, ele acabou sendo detido por soldados americanos e levado ao centro disciplinar de treinamento de Pisa, onde durante três semanas permaneceu encerrado numa jaula de ferro (a “jaula do gorila” referida por ele em seus Cantos), a qual compunha uma fileira de outras tantas jaulas contendo condenados à morte. Exposto ao sol e à chuva e à permanente claridade de fortes holofotes, que o impediam de conciliar o sono, acabou adoecendo e sendo transferido para a assistência médica.
O suplício apenas começava. Seis meses depois, ainda preso, Pound foi transferido para Washington acusado de haver se aliado aos inimigos dos EUA. E, tendo-se declarado da forma mais arbitrária possível que ele não se encontrava de posse de seu juízo nem tampouco em condições de testemunhar, foi trancado num hospital em Washington, de onde somente saiu em 1958. “E agora me chamam louco, porque me despedi de toda loucura...”, escreveria o poeta em seu Personae.

Em várias ocasiões, enquanto esteve no hospício, Pound afirmou estar encerrado num manicômio dentro de outro, pois considerava a sociedade americana como uma imensa casa de loucos. Durante todo o período em que permaneceu preso, ele nunca abriu mão de suas convicções. Mostrou-se assim digno autor daquela sua declaração: “Se um homem não está preparado para correr riscos por suas opiniões, ou suas opiniões não valem nada ou então ele não vale nada”.

Uma vez libertado, o poeta continuou a sofrer perseguições até o fim de seus dias. A Academia de Artes e Ciências dos EUA não aceitou seu nome para a concessão da medalha Emerson, recusando-se, numa atitude sem precedentes, a aceitar o informe de seu próprio comitê. E, ano após ano, foi-lhe negada a concessão do prêmio Nobel, mesmo depois que este havia sido concedido a vários daqueles autores que ele próprio influenciara, os quais não cessavam de proclamar-lhe a superioridade. A seu respeito, Elliot declararia: “Nenhum homem vivo pode escrever como ele, e eu me pergunto quantos terão a metade de seu talento”. E quando, em 1954, Hemingway recebeu o prêmio Nobel de literatura, disse que teria preferido que, ao invés dele, Pound é que o tivesse ganho. Em 1948, Pound chegou a ser homenageado através do prêmio Bollingen de poesia, outorgado pela biblioteca do Congresso. Mas, sem demora, a mídia atacou-o brutalmente e o Congresso retirou esse prêmio da biblioteca e o transferiu para a universidade de Yale. 

E assim é que os Estados Unidos da América, esses auto-intitulados paladinos da democracia e dos direitos humanos, boicotaram seu maior poeta do século XX a ponto de declará-lo louco e trancá-lo num hospício durante treze anos, sem qualquer julgamento, advogado ou direito a defesa, pelo simples fato de ele haver se dignado a propagar aos quatro ventos as grandes verdades que se ocultam sob os véus do liberalismo econômico e político do sistema capitalista. E, depois de haverem lhe restituído o sagrado direito de andar à luz do sol, negaram-lhe o justo reconhecimento, mantendo-o num forçado anonimato a fim de que suas idéias não fossem divulgadas.

A teoria econômica de Ezra Pound parece estranha aos economistas de hoje, com seus cérebros e corações poluídos por séculos de usura. Sua raiz mais profunda pode ser encontrada no Deuteronômio 23, 19-20. O poeta também foi influenciado pelas idéias de Sílvio Gesell, que rebate brilhantemente a justificativa lógica do juro em sua obra A ordem econômica natural, na qual demonstra que os juros compostos, com seu crescimento exponencial, tornam-se rapidamente impagáveis.

amor & odio



                                                                                                       
Sugestão do Dia: Plante, e ame, ame muito.