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não prende


outros mares

Apesar de ser uma produção modesta comercialmente, filme é o mais ambicioso da carreira da atriz e diretora que assume riscos profissionalmente e pessoalmente com exposição. "À Beira-Mar" reúne cenas de sexo, voyeurismo e alcoolismo.

É natural que haja grande expectativa em torno do filme que promove o reencontro nas telas de Brad Pitt e Angelina Jolie, cujo nome artístico agora acolheu o Pitt do marido. Mas “À Beira-Mar” não poderia ser mais distante de “Sr. & Sra. Smith” (2005), o filme que os uniu fora das telas.  


Brad Pitt e Angelina Jolie vivem um casal em crise em
Divulgação
Brad Pitt e Angelina Jolie vivem um casal em crise em "À Beira-Mar"

A produção, que marca a terceira incursão de Angelina Jolie Pitt na direção, se trata de um projeto ousado sob muitos ângulos. Pela primeira vez, Jolie dirige, escreve, atua e produz um filme. Produção esta, totalmente fora da curva. É um longa pequeno, com poucos atores, poucas locuções, diálogos herméticos e muito silêncio. Nada mais afastado da histeria das produções que costumam tomar os cinemas de assalto no fim do ano.
“À Beira-Mar” flagra um casal americano em crise em um resort litorâneo francês. Jolie é Vanessa, uma mulher que resolveu vegetar em sua relação e que parece exageradamente indisposta após ter abandonado a dança por causa da idade. O marido, Roland (Pitt), é um escritor imerso em uma crise criativa profunda. Apesar da influência do profissional no pessoal, a fissura na relação de Roland e Vanessa é muito mais profunda. Eles perderam mais do que a intimidade, o respeito um pelo outro. A viagem para o resort francês tem como objetivo reaproximar o casal.
Enquanto Roland tenta se reconectar com a esposa, Vanessa tenta de todas as maneiras sabotar as investidas do marido. A chegada de um casal em lua de mel vai embaralhar ainda mais as percepções de Roland e Vanessa de sua própria relação.
O olhar para a cumplicidade e desejo do casal, vivido por Mélanie Laurent e Melvil Poupaud, parece desestruturar ainda mais Vanessa. Já Roland vê no inesperado exercício de voyeurismo, uma oportunidade de se restabelecer intimidade com a esposa. 
Eles passam a observar toda a intimidade do casal francês, inclusive suas relações sexuais, por um buraco na parede do quarto do hotel em que estão. A atividade produz efeitos conflitantes no casal, mas serve para tirar Vanessa da letargia em que ela se encontrava. 
Há um percentual nada desprezível de coragem por parte de Jolie de caracterizar Vanessa e Roland como figuras inseridas no contexto artístico. Isto porque é razoável supor que comparações entre o casal da ficção e o casal da vida real pipoquem a torto e a direito. Estreitar os vínculos entre eles é uma opção digna de nota neste sentido. Há outras possíveis referências que podem ser pescadas ao longo do filme para aqueles que também se reconhecerem voyeurs. 
“À Beira-Mar” não é exatamente um grande filme. Sua carga dramática opressiva, seu viés depressivo e a constante navalha na relação de Roland e Vanessa, tornam a experiência de se assistir ao filme semelhante a uma grande discussão de relação. Mas do tipo produtiva.
O que Angelina Jolie propõe é uma inflexão tão doída quanto verdadeira do que é uma relação amorosa no longo prazo: um acúmulo de desilusões, angústias e desgostos. Mas também um esforço conjunto de renovação mais do que dos votos, do amor que uniu duas pessoas em um momento certamente muito mais esperançoso.